Criminosa

Tenho saudades, admito.
Admito como uma adulta.
Não quero como uma criança.
Mas admito como uma adulta.
Saudades de ti.
Mas aprendi a viver com a saudade.
Eu, tu, ele, ela, vós, nós, eles, elas.
Dizem que a esperança é a última a morrer.
Enganam-se.
A saudade morre connosco.
A esperança morre, a saudade fica.
Saudades eu tenho desde que me lembro de ser gente.
Saudades daquele dia num parque.
Saudades de um amigo de infância.
Saudades do verão.
São saudades secundárias.
Saudades dos meus irmãos.
Saudades do meu pai.
Saudades da minha melhor amiga que em tempos foi a melhor.
Saudades de ti que em tempos foste tu.
Saudades de mim que em tempos fui eu.
São saudades que nos destroem, mas aprendemos a viver com elas.
A vida continua, o tempo não pára, nós podemos parar, mas o tempo não.
Enfim, saudades.
As saudades são egoístas.
A saudade só é bom quando sabemos que a vamos matar e que não é a saudade a cometer ilegalidades.
A saudade é um crime.
Onde anda a polícia que não apanha esta criminosa?
Oh senhor agente prenda a saudade, e que o julgamento seja feio.
Provas?
Eu tenho!
Os meus olhos.
É a maior prova que existe.
Escorre água a substituir a saudade.
Criminosa.
Saudades eu tenho, e com elas eu vivo.
Eu, tu, ele, ela, vós, nós, eles, elas.